Educación y formación técnica y profesional

A educação técnica e profissional é composta de programas educacionais destinados a desenvolver habilidades e competências para o trabalho. Em praticamente todos os países da América Latina, a educação técnica e profissional é uma modalidade educacional nos níveis secundário e superior. Ao mesmo tempo, há uma variedade de instituições que oferecem formação técnica e profissional e articulam ações com os Sistemas Nacionais de Educação. Esta seção fornece informações relevantes para caracterizar a oferta de educação técnica e profissional. Apresenta o marco institucional, o marco regulatório específico e um conjunto de intervenções que os países direcionam para a educação técnica e profissional.

Autoria: María José Valdebenito Infante, sob a coordenação do IIPE UNESCO.

1. Educação e Formação Técnica e Profissional

A Educação e Formação Técnica e Profissional (EFTP) representa um pilar fundamental para o desenvolvimento dos países, ao assegurar a equidade e potencializar a produtividade e sustentabilidade. Conforme declarado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a EFTP contribui para o crescimento inclusivo e sustentável em uma era caracterizada por constantes mudanças, contribuindo para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir a prosperidade e a justiça social. Com o objetivo de favorecer o cumprimento da proposta para 2022-2029, a UNESCO identifica três áreas prioritárias: fomentar o emprego e o espírito empresarial dos jovens, promover a equidade e a igualdade de gênero e facilitar a transição para economias verdes e sociedades sustentáveis. Essas prioridades se traduzem no desenvolvimento e no fortalecimento de competências que permitem que as pessoas aprendam, trabalhem e convivam, bem como em habilidades ligadas ao desenvolvimento sustentável e à construção de sociedades inclusivas e resilientes (UNESCO, 2021).

Os países latino-americanos se comprometeram com estes desafios, propondo a expansão da EFTP. Os impulsos têm sido orientados para o desenvolvimento de competências que apoiam tanto a inserção no mundo do trabalho em cenários complexos quanto o aumento das oportunidades de acesso que favoreçam a formação ao longo da vida.

Para a UNESCO-UNEVOC, a EFTP é aquela parte da educação que transmite conhecimentos e habilidades ou aptidões para o mundo do trabalho. Se caracteriza pelo uso de uma abordagem prática e teórica para o desenvolvimento de aprendizagens orientadas a uma ocupação ou campo ocupacional particular. A educação formal conduz à obtenção de certificados e diplomas reconhecidos pelos sistemas educacionais dos países (Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional, CEDEFOP, 2014). A educação não formal, por outro lado, corresponde a qualquer instância de formação para o trabalho que, enquadrada dentro de uma estrutura institucional diferente da do sistema educacional, não conduz a certificados ou diplomas concedidos ou reconhecidos pelo sistema educacional (Sevilha e Montero, 2018).

Em paralelo com a amplitude das propostas educacionais, as políticas na América Latina são diversas. Como será visto neste documento, é possível reconhecer diferentes modos e arranjos institucionais que orientam a ação da EFTP e de suas políticas. Os principais desafios se relacionam com o desenvolvimento de uma oferta ampla e articulada de níveis e modalidades educacionais, que assegure a inclusão de toda a população, especialmente grupos tradicionalmente excluídos. A melhoria da qualidade e relevância da oferta formativa também foi um eixo central das estratégias implementadas, desenvolvendo-se atualizações das propostas formativas de acordo com o desenvolvimento das novas habilidades requeridas, em diálogo com as necessidades socioprodutivas dos países.

A fim de abordar estas questões, apresentamos um panorama regional da EFTP, primeiro esboçando suas estruturas institucionais, governança e estrutura. A partir desta contextualização, recorremos as principais áreas de intervenção das políticas da EFTP na América Latina, ilustrando alguns casos significativos. Nesta seção, a análise de políticas são abordadas seis dimensões, a saber: a ampliação da oferta formativa, o aprimoramento da relevância dos programas formativos, as políticas de fortalecimento da articulação, as de ampliação das oportunidades de emprego, o fortalecimento das capacidades docentes e as políticas de inclusão e gênero.

A primeira dimensão, relacionada à massificação e ampliação da oferta dos itinerários formativos, mostra algumas políticas de diversificação da oferta, expondo iniciativas ligadas à ampliação e diversificação dos programas, bem como ações de apoio às escolhas vocacionais.

Na segunda dimensão, são apresentadas as políticas destinadas a melhorar sua relevância, expondo ajustes curriculares na educação secundária técnica e profissional.

A terceira volta-se ao fortalecimento da articulação entre níveis formativos e revisa as políticas integrais associadas à conexão entre o nível secundário e os demais níveis.

Na quarta dimensão, são apresentadas políticas de ampliação das oportunidades de emprego, contemplando as políticas destinadas a melhorar a inserção no mundo do trabalho da juventude durante o ensino médio técnico e profissional, o fortalecimento do vínculo com os setores produtivos e a alternância nas empresas.

A quinta dimensão está associada ao fortalecimento das capacidades docentes e ilustra as principais estratégias implementadas nos países da região com foco no desenvolvimento das capacidades docentes.

Em seguida, são apresentados alguns dos indicadores mais relevantes que destacam a dinâmica atual da EFTP, particularmente da educação secundária técnica e profissional. Como conclusão, são apresentados os desafios futuros que emergem destes antecedentes e evidências.

2. Estrutura normativa e modelos de provisão

2.1 Estrutura normativa e institucional

A institucionalidade da educação e formação técnica e profissional (EFTP) descreve a localização desta modalidade de formação e os órgãos legislativos que a governam. Dado que a EFTP engloba diferentes dimensões e níveis, as estruturas institucionais tendem a não ser unificadas e seus campos de ação são divididos em diferentes sub-sistemas.

A educação técnica formal, dada sua ligação inextricável com os sistemas de educação formal, tem uma estrutura institucional sob a responsabilidade dos ministérios da educação, regulada pelas leis gerais de educação e ensino superior. Nas experiências da Argentina e da Colômbia, existe uma legislação específica que regulamenta a educação técnica e profissional. Por sua vez, em países como Costa Rica, Honduras, República Dominicana e El Salvador, existem institutos de formação técnico-profissional, que são responsáveis pela política da EFTP.

A educação continuada não formal, por outro lado, tem uma conexão mais distante com os ministérios da educação. Este tipo de formação é geralmente fornecido por agências sob os ministérios do trabalho e é organizado em torno de uma estrutura de direção baseada em comissões ou conselhos. Eles incluem membros representando agências governamentais, empresas e setores trabalhistas. Seu principal objetivo é articular os esforços dos diferentes atores a fim de formar pessoas para facilitar sua integração no mercado de trabalho e desenvolver habilidades para aumentar a produtividade de cada país e economias regionais.

A Tabela 1 apresenta uma visão detalhada das estruturas reguladoras e institucionais para a EFTP na região.

A governança, por outro lado, torna possível descrever o campo de ação dos atores públicos e privados, seus mandatos e recursos. No caso da América Latina, não há um padrão homogêneo de níveis de descentralização na tomada de decisões nos níveis meso e micro. Existem diferentes experiências nas quais a educação técnica e profissional (ETP) é descentralizada nos territórios e outros em que opera de forma centralizada.

No nível da educação formal, em todos os países, as entidades mandatadas para fornecer currículos e programas de nível primário ou secundário são as instituições educacionais do sistema escolar1 . Estes estabelecimentos são principalmente públicos e são regidos, como mencionado acima, por leis educacionais. Brasil, Chile e Guatemala são as exceções, com uma proporção maior de escolas particulares.

No ensino superior técnico, a governança é menos homogênea. Em países como Costa Rica, Guatemala e Honduras, instituições com este nível de educação estão alojadas em universidades, e até mesmo instituições universitárias ministram diplomas intermediários. Outro grupo de países, composto pela Argentina, Chile, Equador, Nicarágua, Paraguai e República Dominicana, tem instituições técnicas especializadas em paralelo com as universidades. Finalmente, existe um terceiro grupo (Bolívia, Brasil, Colômbia, México, Peru, Venezuela e Uruguai), que se caracteriza por oferecer programas de graduação destinados a graduados de cursos técnicos e tecnológicos de ciclo curto. 

No caso das educação e formação técnica e profissional (EFTP), cada país da região latino-americana tem pelo menos uma instituição de formação administrada pelo Estado com cobertura nacional. Ao mesmo tempo, existe uma ampla gama de instituições privadas, incluindo iniciativas lideradas tanto por empregadores como por trabalhadores. No que diz respeito à formação de membros, as análises não mostram evidências conclusivas. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2017), as experiências na região mostram que tanto os programas privados quanto os públicos podem alcançar bons resultados.

A Tabela 2 fornece uma visão detalhada da estrutura institucional da EFTP na região, com informações de fundo sobre seus fornecedores.

2.2 Estrutura da ETP formal

A estrutura da ETP na região varia em função do nível educacional em questão. Na educação técnica em nível escolar, por exemplo, existem múltiplos formatos. No nível secundário inferior, a educação de nível 2 é fornecida de acordo com a Classificação Internacional Normalizada da Educação, com programas pré-vocacionais no final do ensino primário, que são especificamente concebidos para motivar os estudantes e contribuir para reduzir as taxas de abandono escolar.

Na educação secundária superior, os programas são voltados tanto para a inserção dos jovens no mercado de trabalho quanto para a busca de estudos superiores. Deve-se notar que, ao contrário do que acontecia décadas atrás, esta educação não é mais concebida como de caráter terminal.

Atualmente, os países apresentam diferentes modalidades, e alguns deles oferecem educação secundária intermediária (Uruguai e México) e modelos que oferecem qualificações profissionais complementares e profundas.

No ensino superior, os programas geralmente estão nos níveis 4 e 5 do CINE, com poucas experiências que levam ao nível 6 do CINE sendo reconhecidas.

A tabela 3 descreve a situação em cada país, com os anos correspondentes de duração da ETP e os ciclos fornecidos.

2.3 Modelos de oferta da ETP formal

Os modelos de provisão existentes na educação técnica se distinguem pelo grau de conexão entre os níveis educacionais e a ligação entre a ETP e a formação geral ou acadêmica. Com base em sua classificação, dois modelos podem ser reconhecidos: sistemas de provisão segmentados e abrangentes. O primeiro deles, o modelo segmentado, está associado a modalidades educacionais que levam a certificações e roteiros educacionais-laborais diferenciados. Embora este modelo seja maciço em todo o mundo, ele corre o risco de distribuir de forma desigual as oportunidades de aprendizagem. Neste sentido, como afirmam Sevilha e Montero (2018), o sucesso dos modelos segmentados depende da flexibilidade de seus caminhos.

Sistemas abrangentes, por outro lado, surgem como uma resposta à desigualdade do modelo segmentado e são caracterizados por uma estrutura curricular articulada entre EFTP e educação geral através de um único currículo. Neste modelo, a educação secundária oferece oportunidades universais para a exploração vocacional e o desenvolvimento de habilidades transversais de empregabilidade, de forma que as oportunidades de acesso sejam equilibradas tanto para a continuidade dos estudos quanto para a inserção precoce no mercado de trabalho.

Como em outras regiões do mundo, o modelo segmentadoprevalece nos países da América Latina, que segrega os alunos em diferentes escolas de acordo com a modalidade educacional. Embora este modelo tenha sido predominante, alguns países da região fizeram mudanças para expandir as oportunidades para os jovens na EFTP. Estes ajustes foram destinados a remover o caráter terminal do ensino médio através de transformações curriculares. No México e no Uruguai, por exemplo, foram criadas credenciais técnicas de bacharelado como contrapartida aos bacharelados acadêmicos, que levam ao ensino superior. Entretanto, é importante notar que, enquanto o modelo segmentado é a maioria, no caso do Peru, prevalece o modelo abrangente, obrigando as escolas secundárias a desenvolver uma educação profissional e polivalente de forma articulada.

3. Caracterização das políticas

São amplos os esforços para melhorar a qualidade e a relevância da Educação e Formação Técnica e Profissional (EFTP) para garantir o acesso e avançar em políticas mais inclusivas. As intervenções em nível educacional e de política social tiveram como objetivo gerar mudanças institucionais e implementar regulamentações e incentivos. São identificadas seis áreas relevantes de desenvolvimento, a saber: massificação e ampliação da oferta, aprimoramento das propostas formativas, fortalecimento da articulação entre níveis formativos, ampliação das oportunidades de emprego, fortalecimento das capacidades docentes e políticas de inclusão e gênero. Estas dimensões são descritas abaixo, seguidas de alguns casos ilustrativos da América Latina.

3.1 Massificação e diversificação da oferta

Para reverter a baixa proporção de jovens na educação secundária técnica e profissional (EFTP), os países da região implementaram diversas intervenções com o objetivo de aumentar o número de matrículas e melhorar o acesso em diferentes níveis. Entre as iniciativas está o desenvolvimento e a expansão de programas em áreas de difícil acesso, sendo reconhecida como uma das estratégias aproximar a EFTP desses territórios.

Particularmente, destacam-se as unidades móveis implementadas no México, Argentina e Colômbia, que permitiram levar diferentes recursos de aprendizagem (cápsulas, materiais, entre outros) a áreas de difícil acesso ou marginalizadas.

Por sua vez, com o objetivo de aumentar o interesse e o conhecimento da população jovem e adulta, também foram desenvolvidas propostas para fornecer informações e orientações relacionadas à oferta de EFTP. No Chile, por exemplo, a iniciativa Elige ser TP, do Ministério da Educação, busca destacar a importância da ETP, incentivando mais pessoas a escolherem essa alternativa de estudo. Essa estratégia mostra como a EFTP oferece acesso a especializações e programas flexíveis de alto nível de emprego e articulados em diferentes níveis. A Tabela 4 apresenta alguns casos notáveis de políticas públicas, programas e iniciativas destinados a aumentar o acesso à EFTP na América Latina.

 

 

Programa de Salas de Aula-Oficinas Móveis na Argentina

Surgiu em 2012, a partir da necessidade de garantir espaços de formação e capacitação a pessoas que residem afastadas dos centros urbanos, oferecendo, assim, uma educação inclusiva e de qualidade em todo o território argentino.

Estas salas de aula são transportáveis e móveis, por terra ou água, e reproduzem as características de uma sala de aula-oficina e/ou laboratório para o desenvolvimento de atividades de capacitação, com as comodidades e os equipamentos necessários para esse fim.

Em 2022, o Ministério da Educação Nacional ampliou o programa, definindo-o como uma política de Estado no campo da educação. Essa ampliação busca atualizar as ofertas educacionais para responder à matriz produtiva local e regional, incorporar novas tecnologias educacionais digitais e adaptar as ferramentas de gestão e administração. Dessa forma, atende-se às necessidades de formação de adolescentes, jovens e adultos, contribuindo de forma direta, rápida e eficiente para o desenvolvimento tecnológico-produtivo das comunidades de cada jurisdição.

Da mesma forma, o Programa Rede Federal de ATM busca novas possibilidades de articulação com planos e programas nacionais ou jurisdicionais de desenvolvimento produtivo e tecnológico, bem como o estabelecimento de alianças estratégicas com organizações públicas, privadas e/ou do terceiro setor nos campos científico e tecnológico.

 

 

3.2 Melhoria da relevância das propostas formativas

A educação superior técnica e profissional foi atravessada por avanços expressivos em sua oferta formativa. Um grupo significativo de países implementou políticas que se concentraram no estabelecimento de padrões de qualidade e outras políticas de garantia que estabelecem critérios e se traduzem na certificação de programas e instituições. No Peru, institutos e faculdades tecnológicas públicas e privadas regulamentaram o licenciamento das instituições, enquanto no Equador, o Conselho de Garantia da Qualidade da Educação Superior (CACES) é responsável pela certificação das instituições, com foco em aspectos próprios da ETP, como a formação prática dos estudantes, a relação da instituição com a produção de bens e serviços, a experiência profissional do corpo docente, a produção de conhecimento e os vínculos com o meio ambiente e a infraestrutura.

A educação média técnica e profissional, por outro lado, conta com menos políticas específicas de garantia de qualidade, mas com avanços nos últimos anos. No âmbito das atualizações curriculares deste nível, estão sendo implementadas mudanças que buscam dialogar com as transformações enfrentadas pelos setores socioprodutivos, as novas demandas e os desafios do desenvolvimento sustentável. As mudanças curriculares mais inovadoras demonstram a importância do desenvolvimento de competências para a aprendizagem ao longo da vida, a fim de permitir que os estudantes se mobilizem em um mundo em transformação e em setores socioprodutivos que se transformam e se interconectam continuamente.

A Tabela 5 apresenta alguns casos ilustrativos de políticas, programas e iniciativas públicas na educação técnica e profissional voltadas para a melhoria da relevância das propostas formativas.

 

 

Programa Sala de aula, Escola e Comunidade no México: a importância da articulação curricular

A estrutura geral da nova proposta curricular busca responder às necessidades tanto dos estudantes quanto da sociedade. Está fundamentada no paradigma da aprendizagem ao longo da vida, buscando formar uma cidadania autônoma e responsável, capaz de comunicar suas ideias em diferentes meios de expressão, respeitando a diversidade social e cultural do país. Espera-se também que esta cidadania respeite o meio ambiente e seja capaz de utilizar recursos tecnológicos.

A formação profissional baseada em competências visa capacitar os estudantes não apenas para ingressar no mundo do trabalho, mas também para enfrentar diversas situações em sua vida pessoal, profissional, cívica e social. A nova estrutura curricular enfatiza a importância da articulação, promovendo vínculos efetivos entre os conhecimentos, as experiências e aprendizagens adquiridas nas Unidades de Aprendizagem Curricular (UAC) e o mundo do trabalho.

Isso é promovido por meio do Programa Sala de Aula, Escola e Comunidade (PAEC), que propõe uma articulação curricular que facilita a transferência de conhecimentos, experiências, habilidades, capacidades, atitudes e valores por meio da implementação de métodos pedagógicos, estratégias de ensino e aprendizagem, técnicas, recursos e materiais didáticos, de modo que os estudantes sejam capazes de saber, compreender e fazer o que indica a competência ao final do processo de aprendizagem.

 

 

 

 

 

Mudança curricular no Uruguai: uma proposta que integra a transdisciplinaridade e o design thinking

A educação profissionalizante de nível médio no Uruguai parte da abordagem em competências e a nova estrutura curricular incorporou a noção de Progressões de Aprendizagem. Sua estrutura inclui o saber ser (motivação, iniciativa e trabalho colaborativo com outros), o saber conhecer (observar, explicar, compreender e analisar) e o saber fazer (desempenho baseado em procedimentos e estratégias). Além disso, devem considerar os requisitos específicos do ambiente, as necessidades pessoais e os processos de incerteza. Nesse sentido, o novo currículo estabelece que os diferentes problemas que possam surgir no exercício diário do perfil acadêmico e profissional devem ser analisados e resolvidos, o que implica trabalhar sob enfoques “inter, co e transdisciplinares” para que a mesma competência possa ser desenvolvida a partir de diferentes disciplinas.

Metodologicamente, o plano de estudos propõe processos colaborativos que envolvem o pensamento crítico, científico e criativo, e estão orientados para a reflexão-ação. Para isso, utiliza metodologias do Design Thinking baseadas na análise e identificação de problemas e sua relevância.

Busca colocar em jogo o conhecimento, a técnica, a experimentação e a criatividade para gerar diferentes soluções possíveis. Essa proposta metodológica é organizada em três etapas: exploração e compreensão, definição do problema, criação e teste.

 

 

 

3.3 Políticas de fortalecimento da articulação

Um dos aspectos mais relevantes e complexos é a articulação entre os níveis e as alternativas formativas. Esta articulação pode ser vertical ou horizontal. A articulação vertical é estabelecida entre os programas formativos da educação formal, enquanto a articulação horizontal envolve aprendizagens em todos os contextos de formação, considerando a capacitação e a experiência profissional. Através de ambos, o objetivo é assegurar uma transição adequada entre os diferentes níveis educacionais. A implementação dessas iniciativas requer sólidas estruturas de trabalho entre as instituições (escolares e de educação superior) e a existência de mecanismos de apoio à definição de políticas de articulação, visando o estabelecimento de incentivos ou regulamentações específicas.

Para facilitar o desenvolvimento das trajetórias educacionais e de emprego das pessoas e para fortalecer a qualidade e a relevância entre a oferta formativa e as necessidades do mundo do trabalho, diversos países desenvolveram políticas de articulação. Entre elas, destacam-se as estruturas de qualificações que constituem um eixo articulador entre o mundo formativo e o mundo do trabalho. Este instrumento orientador e referencial que permite organizar e reconhecer aprendizagens nos diferentes níveis tem sido desenvolvido em países como Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Honduras, México, Panamá, Peru e República Dominicana. Em nível regional, o Quadro de Qualificações para o Ensino Superior Centro-Americano (MCECSCA) é uma referência ao integrar uma multiplicidade de países, guiando as ações em Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Além dos parâmetros de qualificações, a implementação da certificação de competências tem sido outro espaço de fortalecimento da EFTP. A certificação de competências permite avaliar e validar os conhecimentos dos trabalhadores ao longo de sua vida, promovendo a inserção e a competitividade em diferentes funções profissionais.

Paralelamente a essas ações, os países da região desenvolveram políticas que buscam gerar uma agenda integrada de EFTP. A Argentina, o Uruguai e o Brasil possuem órgãos autônomos encarregados de coordenar as políticas públicas de educação secundária e superior técnica, enquanto outros países, como o Chile, o Equador e a Colômbia, promoveram uma política de educação e formação técnica e profissional cujo objetivo é coordenar o trabalho entre as instituições do Estado e o setor produtivo para promover o desenvolvimento do talento humano. O Peru também avançou nessa direção através da Política Nacional de Educação Superior e Técnico-Produtiva (PNESTP), que visa a aumentar o acesso à educação superior e técnico-produtiva com oportunidades iguais para todos os peruanos. A Tabela 6 mostra alguns casos ilustrativos de políticas, programas ou iniciativas públicas de fortalecimento da articulação na América Latina.

 

 

Um novo plano de EFTP com foco nos itinerários: o caso do Equador

Em 2020 e 2021, o Ministério da Educação, o Ministério do Trabalho e a Secretaria de Educação Superior, Ciência e Tecnologia (SENESCYT) do Equador desenvolveram um guia atualizado do Plano EFTP. Seu objetivo era fortalecer o sistema de educação e formação técnica e profissional (EFTP), promovendo oportunidades para a aquisição de competências integrais que promovam o trabalho digno e o desenvolvimento social e produtivo.

Para atingir esse objetivo, o guia estabelece seis eixos estratégicos específicos. O primeiro deles se concentra na melhoria da relevância e da qualidade da EFTP por meio da criação de um novo Modelo de Relevância da EFTP com foco no desenvolvimento social e produtivo em todos os territórios do país. Além disso, busca desenvolver a Cultura Pedagógica da Qualidade através do desenvolvimento de capacidades para a reflexão de sua prática educacional com vistas à transformação do contexto socioeducacional.

O segundo eixo busca fortalecer as trajetórias educacionais por meio da construção de um amplo itinerário acadêmico para a EFTP, desde o nível médio ao superior, e que reconheça as trajetórias profissionais. Este eixo integra estratégias para a inclusão de pessoas com deficiências, a implementação de um modelo de orientação vocacional e profissional e o estabelecimento de mecanismos para estimular a mobilidade da comunidade educacional e acadêmica.

A governança, correspondente ao terceiro eixo, busca estabelecer uma instância administrativa para a coordenação, o monitoramento e a avaliação da EFTP. Considera a criação de um observatório da EFTP que promova a implementação de um modelo de gestão de qualidade para o sistema de EFTP.

O quarto eixo, de empregabilidade, visa consolidar a integração transversal das disciplinas STEAM em todos os níveis de formação e promover a inovação e a transferência de tecnologia na EFTP. Também busca promover habilidades ecológicas para uma transição fluida para economias sustentáveis, especialmente em áreas rurais e no desenvolvimento agrícola e pecuário do país.

O eixo de democratização, correspondente à quinta dimensão, busca reduzir as diferenças de gênero entre as áreas urbanas e rurais e promover a integração de estudantes com deficiência na EFTP.

Por fim, o eixo de comunicação busca projetar uma estratégia de comunicação para os aspectos fundamentais da EFTP junto com os principais atores envolvidos.

 

 

 

 

 

A Colômbia e o avanço a um sistema integrado para a promoção de trajetórias

Como revela o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID, 2013), a Colômbia possui um sistema que busca articular processos que permitam a aprendizagem ao longo da vida. O Ministério da Educação Nacional (MEN) tem desenvolvido diversas iniciativas para promover e incentivar tal articulação. Entre elas está o projeto de Competências Profissionais, Formação para o Trabalho e Relevância da Educação Média, que busca assegurar que todas as instituições educacionais deste nível ofereçam a seus estudantes uma formação baseada em competências para o trabalho. Além disso, o sistema educacional forneceu recursos para facilitar a conclusão da educação média e o acesso e persistência na educação superior, através de instâncias competitivas. Neste contexto, o Plano Nacional de Desenvolvimento 2018-2022 foi implementado com o objetivo de promover trajetórias completas do ensino inicial ao superior, buscando evitar a evasão e melhorar a qualidade das aprendizagens significativas.

Essa estratégia integra, entre seus componentes, o Observatório de Trajetórias Educacionais, com o objetivo de promover iniciativas que aumentem os fatores de proteção das trajetórias e mitiguem a incidência de fatores de risco, bem como facilitar a construção, o monitoramento e a avaliação de políticas públicas em educação.

Trata-se de uma nova ferramenta de consulta de informações estatísticas que permite monitorar o trânsito dos estudantes em cada nível de ensino, identificar as necessidades específicas de cada território e, com base nestas, gerar políticas para reduzir os riscos de evasão ou abandono.

A ferramenta avança na harmonização e integração dos diferentes sistemas de informação disponíveis para o Ministério, como o Sistema de Acompanhamento do Desenvolvimento Integral da Primeira Infância (SSDIPI), o Sistema Integrado de Matrículas (SIMAT), o Sistema Nacional de Informação da Educação Superior (SNIES), Sistema de Prevenção e Análise da Deserção em Instituições de Educação Superior (SPADIES) e o Observatório Laboral da Educação (OLE), que são complementados pela Pesquisa Nacional de Domicílios realizada pelo Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE).

 

 

3.4 Ampliação das oportunidades de trabalho

A ampliação das oportunidades de trabalho constitui um propósito fundamental na EFTP. Juntamente com o fortalecimento da qualidade da oferta educacional, muitas políticas foram implementadas para desenvolver e ampliar as oportunidades, as habilidades, os conhecimentos e as competências para possibilitar a entrada dos estudantes no mercado de trabalho. Para isso, buscou-se fortalecer os vínculos com os setores produtivos, a fim de melhorar a relevância das propostas formativas, atender os requerimentos das novas tecnologias e formas de produção e alcançar uma integração mais harmoniosa entre teoria e prática. Nesta dimensão, destacam-se os modelos de aprendizagem que aproximam os estudantes e aprendizes das empresas, por meio de dinâmicas de alternância, estágios e práticas profissionais.

A modalidade dual tem sido uma alternativa valorizada por suas múltiplas potencialidades para a educação. Seus pontos fortes são as possibilidades que os estudantes teriam de se aproximar do mundo real do trabalho, a aquisição de maiores competências técnicas específicas, o desenvolvimento de habilidades interpessoais cada vez mais demandadas pelo mundo do trabalho e o acesso a experiências educacionais com um uso intensivo de novas tecnologias (Salum, 2019). Na região da América Latina, países como Brasil, Costa Rica, México e Chile implementaram esse modelo, destacando os benefícios no desenvolvimento de habilidades sociolaborais e socioemocionais, bem como maiores oportunidades de obtenção de um emprego formal.

No entanto, a articulação não tem sido tão ampla como esperado e, nesse contexto, os países passaram a buscar políticas mais diretas. Entre elas, destacam-se os subsídios ao emprego juvenil e iniciativas integrais que promovam vínculos sustentáveis entre as empresas e os centros de formação.

A Tabela 7 apresenta alguns casos vinculados à ampliação das oportunidades de trabalho, no contexto da América Latina.

 

 

Fórmate para el Trabajo. Um programa para fortalecer as habilidades de trabalho de jovens da secundária no Chile.

O projeto Fórmate para el Trabajo foi criado para os estabelecimentos de ensino técnico-profissional de ensino médio e tem como objetivo capacitar pessoas que estejam em seu quarto ano de educação diferenciada, fechando a lacuna atual entre o perfil de graduação dos estudantes do ensino médio e o perfil de entrada, tanto para a educação superior quanto para o mercado de trabalho. O objetivo é aproveitar as capacidades instaladas que esses estabelecimentos de educação média técnica e profissional possuem em nível nacional e, com isso, incentivar a construção de itinerários de formação-trabalho por meio da aquisição de habilidades complementares às adquiridas no processo educacional formal. Isso contribui para que a empregabilidade futura dos participantes desses cursos se aproxime do trabalho decente, conforme as definições da ONU.

Sua fase letiva contempla a implementação de cursos de capacitação profissional baseada em competências, através de uma capacitação estruturada em planos formativos voltados para o desenvolvimento de competências técnicas e transversais, que devem incluir horas teóricas e práticas.

A prática profissional é obrigatória para todos os participantes, mas pode ser substituída por colocação direta, situação que deve ser refletida no formulário de conclusão da fase letiva. Por sua vez, como a colocação pode ocorrer logo após o término da fase letiva ou ainda durante a execução do período de estágio, a prática profissional deixa de ser exigida.

 

 

3.5 Fortalecimento das capacidades docentes

O fortalecimento das equipes docentes consiste em um aspecto de grande relevância para a melhoria da qualidade da EFTP. Embora sua importância seja reconhecida, as políticas e os programas destinados a aprimorar as capacidades pedagógicas e disciplinares são escassos. Alguns cursos foram desenvolvidos para a atualização de conhecimentos tanto pedagógicos quanto em áreas técnicas e tecnológicas específicas, bem como currículos de formação de professores voltados para a certificação pedagógica de técnicos que lecionam sem diploma.

Os casos mais destacados no panorama regional são os da Argentina, Paraguai, Uruguai e Cuba, que representam os países que mais avançaram sistematicamente na profissionalização.

A Tabela 8 apresenta casos ilustrativos de políticas, programas e iniciativas públicas de educação técnica e profissional voltadas ao fortalecimento de capacidades docentes no contexto da América Latina.

 

 

Uma institucionalidade para a formação de professores da educação técnica e profissional: o caso do Uruguai

A experiência da formação docente no Uruguai constitui um caso excepcional na região da América Latina. O Instituto Normal de Ensino Técnico (INET), fundado em 1962, tem como proposta formar profissionais da educação técnica, tecnológica ou mediada por tecnologias, com diplomas de graduação ou técnico. Atualmente, o instituto incorporou três unidades operacionais no nível da gestão para atender às novas demandas: a Unidade de Modalidade Semipresencial, a Unidade de Trajetórias Estudantis e a Unidade de Atividades Externas.

O plano formativo do INET enfatiza os saberes didáticos, pedagógicos, científicos, técnicos e tecnológicos específicos para implementar ações educativas que promovam aprendizagens relevantes e de qualidade aos estudantes, além de fomentar a capacidade de análise e pesquisa e contribuir com soluções para situações e problemas próprios de sua prática profissional.

Seguindo esses propósitos, o INET busca desenvolver uma proposta curricular baseada na formação em direitos humanos, situando os estudantes como protagonistas de seu aprendizado. A formação docente desenvolve tanto âmbitos disciplinares como interdisciplinares de ensino, pesquisa e produção de conhecimento sobre as práticas de ensino técnico e tecnológico, bem como de conhecimento e análise de políticas educacionais, produtivas e tecnológicas relacionadas aos processos de inovação e desenvolvimento da nossa sociedade. Por sua vez, foca en garantir um desenvolvimento de práticas profissionais docentes e técnicas através de atividades formativas realizadas em conjunto com diversas instituições e âmbitos educacionais, sociais ou produtivos, assim como nos próprios cenários de atividade profissional.

Em termos de apoio e fortalecimento das trajetórias e navegabilidade de estudantes e graduados destas áreas no sistema educacional terciário, o INET possui mecanismos de reconhecimento dos perfis de formação de docentes técnicos, bem como do reconhecimento de trajetórias formativas prévias e de práticas profissionais. Entre seus propósitos, também busca promover as experiências de troca e colaboração de estudos.

Assim, a maior parte dos cursos do INET se caracterizam por oferecer uma proposta de formação para docentes técnicos, concebida desde a conceitualização do desenvolvimento profissional como um processo contínuo e planejado, com um nível de formação inicial de graduação ou pré-graduação (curso técnico).

 

 

 

3.6 Políticas de inclusão e gênero

A partir da Agenda 2030, os países da região adotaram compromissos em termos de inclusão, focados em atender as populações mais desfavorecidas e vulneráveis. Neste sentido, ações foram desenvolvidas para melhorar o acesso à EFTP de populações rurais, populações indígenas, pessoas com diversidade funcional e população migrante.

Duas iniciativas importantes foram implementadas no Peru (Política Nacional de Educação Superior) e no Equador (Plano de Educação e Formação Técnica e Profissional), que buscam facilitar o acesso equitativo e acompanhar as trajetórias das pessoas que se encontram em situações desfavorecidas e de desigualdade.

Por su vez, no Chile, foram desenvolvidas políticas para a população migrante, pessoas que infringiram a lei e pessoas com deficiência. Deste modo, busca-se fortalecer as trajetórias de jovens que se formam na educação média técnica e profissional e em situação de vulnerabilidade através da capacitação complementar, do desenvolvimento de habilidades transversais e intermediação profissional. O Brasil também apresenta iniciativas semelhantes com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com o objetivo de incluir pessoas com necessidades educacionais específicas (deficiências ou altas capacidades) e à população indígena, ampliando suas possibilidades de inserção e permanência no mercado de trabalho.

Em termos de igualdade de gênero, a Agenda Regional de Gênero, destinada à formação de um modelo de desenvolvimento baseado nos direitos humanos, estabeleceu uma agenda e orientou uma série de medidas para superar os principais obstáculos nos processos de institucionalização da igualdade de gênero e dos direitos das mulheres. O Instituto Nacional de Educação Tecnológica (INET) argentino implementou uma série de ações voltadas para a equidade de gênero na ETP em todos seus níveis, começando pela secundária. O Equador e o México, por sua vez, contemplam estratégias para a redução das brechas de gênero e modelos institucionais para a igualdade de gênero, que buscam eliminar todas as formas de discriminação e violência. Já o Chile desenvolveu em 2022 o Plano de Equidade e Igualdade de Gênero e a inclusão de grupos socialmente vulneráveis, focado em favorecer as políticas de gênero e inclusão em centros de formação técnica e institutos profissionais públicos e privados, atualizado em 2024.

A Tabela 9 expõe alguns casos relevantes de políticas de ETP orientadas à inclusão das populações historicamente mais desfavorecidas e vulneráveis na América Latina.

 

 

Projeto PROFET: Formação de qualidade para o trabalho com foco em gênero e inclusão em Cuba

O Ministério da Educação de Cuba (MINED), acompanhado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Agência Suíça para a Cooperação e o Desenvolvimento, e o setor de educação técnica e profissional (ETP), desenvolveram a Estratégia de Gênero e Inclusão Social como parte do Projeto PROFET.

Essa estratégia busca a melhoria contínua da educação e, em particular, da modalidade de educação técnica com perspectiva de gênero, bem como ao aprofundamento da inclusão.

A estratégia foca em fortalecer a igualdade de gênero e a inclusão na formação profissional de estudantes em centros de estudos politécnicos, bem como no desempenho educacional dos professores, pessoal diretivo, especialistas, tutores e metodológicos e na atuação conjunta com as famílias. Além disso, propõe incidir nos âmbitos territorial e intersetorial para gerar oportunidades de acesso ao emprego equitativas.

Nesse trânsito, a estratégia propõe acompanhar as escolas politécnicas que implementam o projeto PROFET no desenvolvimento de seus planos de ação de gênero e inclusão; certificar os centros educacionais da ETP que se destacam por ser potenciadores da igualdade e da equidade; e gerar aprendizagens para replicar a experiência em todos os centros educacionais da ETP e em outros níveis educacionais do MINED.

 

 

 

4. Panorama em dados

A seguir, destacamos alguns dos principais indicadores relacionados à cobertura da educação e formação técnica e profissional (EFTP) na América Latina. Considerando que as fontes de informação e dados são limitadas, parte dos dados estão disponíveis apenas até 2022, e majoritariamente até 2019, refletindo, portanto, um panorama parcial das dinâmicas atuais da região.

Os indicadores relacionados à cobertura da educação média e secundária técnica e profissional mostram, em primeiro lugar, que existe uma ampla dispersão entre os países. Há casos de ampla cobertura, como Honduras, México, Cuba, Costa Rica e Uruguai, enquanto que, em outros, como Peru, Brasil, Colômbia e República Dominicana, a cobertura é marginal. Em relação à evolução da matrícula, as cifras demonstram tendências variáveis. Em países como República Dominicana e Cuba, observa-se um aumento. Por outro lado, no Chile, a proporção de estudantes tem diminuído de maneira significativa.

Em outros indicadores, observa-se que a cobertura em educação e formação técnica e profissional na população entre 15 e 24 anos mostra uma tendência de variabilidade similar ao exposto. Há países na região onde a proporção de matrícula em EFTP é significativa, como na Bolívia. No entanto, como mostra o Gráfico 2, o restante dos países apresenta uma proporção total de jovens na EFTP mais discreta, abaixo de 15%.

Ao analisar a segmentação da EFTP por gênero em jovens entre 15 e 24 anos, as cifras indicam que a maioria dos países que dispõe de dados (6 de 11) tem uma participação maior de homens que de mulheres. Apenas Brasil, República Dominicana, Costa Rica e Chile apresentam uma maior proporção de mulheres jovens estudando na EFTP nessa faixa etária. No caso do Peru, há uma proporção equivalente entre homens e mulheres.

Entretanto, uma análise dos dados dos últimos anos mostra que o aumento da participação feminina na EFTP é uma tendência na região. A maioria dos países considerados na análise aumentou a participação feminina entre 2015 e 2019; é o caso do Brasil, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, México, Peru e Uruguai. Por outro lado, os casos do Chile, El Salvador e Bolívia mostram uma tendência de queda na participação das mulheres.

5. Avanços e desafios

Os dados acima mostram que a educação e a formação técnica e profissional constituem uma área de desenvolvimento relevante para a América Latina. Embora suas expressões institucionais sejam heterogêneas, em muitos países as políticas promovidas têm sido sistemáticas e buscam fortalecer diferentes dimensões e esferas de ação.

Nos últimos tempos, as estratégias de fortalecimento têm sido orientadas principalmente para a promoção de estruturas de governança que permitam uma melhor articulação das políticas de educação e formação técnica e profissional e dos atores envolvidos. Nessa linha, as ações visaram a dotar o subsistema de diretrizes e instrumentos de política que garantam a implantação de programas de formação com foco nas trajetórias e transições educacionais e de trabalho dos estudantes. As mudanças e os ajustes curriculares na educação técnica e profissional de nível secundário, bem como o desenvolvimento de estruturas de qualificação, refletem a centralidade das trajetórias e do avanço em itinerários formativos mais articulados. Além disso, diferentes países da região começaram a adotar políticas de igualdade de gênero, com o objetivo de aumentar a participação das mulheres e reduzir as disparidades existentes nos setores socioprodutivos que tradicionalmente apresentam alta segregação de gênero.

Reconhecendo os avanços descritos acima, os países da região apresentam uma multiplicidade de áreas que precisam ser fortalecidas e onde podem ser projetados desafios comuns. Entre eles, destacam-se os seguintes:

  • Um primeiro âmbito de melhoria que se mantém no tempo é o estabelecimento de critérios de qualidade próprios para a educação média técnica e profissional. As experiências mostram que, se bem se conta com algumas políticas de melhoria, há uma ausência de políticas nesse âmbito. Isso se traduz em transtornos institucionais que limitam o crescimento dessa modalidade educacional no nível secundário e reduzem sua legitimidade aos olhos dos atores envolvidos. O estabelecimento de políticas específicas possibilitaria o monitoramento das aprendizagens e, portanto, abriria a possibilidade de fornecer feedback sobre as práticas internas.
  •  Um dos maiores desafios é o fortalecimento dos vínculos com os sectores socioprodutivos. Gerar instâncias de construção de iniciativas com grêmios empresariais e trabalhadores contribuirá para a melhoria da pertinência e da legitimidade da EFTP. A implementação de instâncias estáveis de trabalho onde se promova uma participação crescente de atores nacionais e territoriais consiste em uma demanda a ser considerada. Em paralelo, o aumento da participação de agentes nos processos formativos dos estudantes poderia ser implementado através da criação de práticas profissionais ou iniciativas de alternância.
  • Em sintonia com isso, as evidências mostram que os países da região há uma ausência de políticas de formação de docentes da EFTP. Foram encontradas apenas experiências isoladas, que não constituem uma norma e, em tal sentido, é imperativo desenvolver uma política sólida nessa área. O investimento em programas de formação e atualização docente, bem como a formalização do papel dos professores técnicos nas diferentes políticas nacionais associadas à profissão de professor, deve ser um compromisso político.
  • Outro desafio que persiste é o avanço à igualdade de gênero, buscando não apenas aumentar a participação das mulheres na educação e formação profissional, mas também o desenvolvimento de políticas ou iniciativas destinadas a reduzir a segregação de gênero existentes nos programas de formação, incentivando jovens e adultos a participarem de programas formativos nos quais possuem menor representação. Da mesma forma, é necessário avançar na melhoria das experiências de aprendizagem e na garantia de espaços educacionais e de trabalho livres de discriminação, assédio e violência para as mulheres e as diversidades sexuais.
  • Ao mesmo tempo, é preciso avançar na inclusão de grupos socialmente excluídos. Embora tenha havido avanços nos mecanismos de acesso, é necessário aumentar as propostas formativas focadas em trabalhar com a população neurodivergente e pessoas com deficiência, propondo estratégias de ensino que garantam o desenvolvimento de todas as capacidades. Há também a demanda por um foco maior nas políticas voltadas para os povos indígenas e o desenvolvimento de uma formação técnica e profissional com foco na interculturalidade. Por fim, dada a mobilidade da população latino-americana no território, expressa em seus altos fluxos migratórios, são exigidas políticas de reconhecimento de aprendizagens prévias e mecanismos que facilitem a inclusão da população migrante.
  • Outro desafio pendente é o desenvolvimento de políticas de educação e formação técnica e profissional orientadas para o desenvolvimento sustentável e ambiental. Isso implica a determinação de políticas nacionais e territoriais que integrem projeções e estratégias de desenvolvimento orientadas para o bem-estar das pessoas e o cuidado com o meio ambiente, considerando as demandas e os requerimentos socioprodutivos locais.
  • Finalmente, considerando a falta de informações disponíveis sobre indicadores de resultados e processos associados ao subsistema de educação técnico e profissional, é necessário avançar na coleta e no desenvolvimento de um sistema de informações integrado de dados sobre educação e formação técnica e profissional em nível latino-americano. Isso facilitaria a tomada de decisões e o desenvolvimento de iniciativas destinadas a fortalecer as políticas e os programas nacionais e regionais.

6. Referências Bibliográficas

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Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura [UNESCO] (2016). Educação e Formação Técnica e Profissional na América Latina e no Caribe: Uma perspectiva regional por volta de 2030. Escritório Regional da UNESCO para Educação na América Latina e no Caribe.

--- (2019). Educação dupla e responsabilidade corporativa. Parcerias público-privadas para a mobilidade social. Escritório da UNESCO no México.

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Organização Internacional do Trabalho [OIT] (2017). O futuro da formação profissional na América Latina e no Caribe. Diagnóstico e diretrizes para seu fortalecimento.Salum, J. M. (2019). As competências básicas podem ser desenvolvidas através da modalidade dupla em uma escola técnica de ensino médio vocacional de alta vulnerabilidade. Brazilian Journal of Development, 5(6), 5582-5621.

Sevilla, M. P. (2017). Panorama de la educación técnica profesional en América Latina y el Caribe, Serie Políticas Sociales, 222.

Sevilla, M. P., Farías, M., e Weintraub, M. (2014). Articulação da educação técnica vocacional: uma contribuição para sua compreensão e consideração a partir de políticas públicas. Calidad en la Educación, 41, p. 83-117.

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SITEAL [Sistema de Informação de Tendências Educacionais na América Latina] (2019). Educação e formação técnica e profissional. IIPE UNESCO.

7. Notas

[1] No nível primário, também é possível encontrar programas especiais para jovens que estão atrasados em suas trajetórias educacionais, que recebem formação profissional ou uma qualificação de nível intermediário.

[2] Embora haja uma tendência à segmentação, deve-se observar que em vários países da região (Equador, Paraguai, El Salvador, Guatemala, Colômbia, Cuba, Honduras e Chile) existem estabelecimentos educacionais integrados ou polivalentes que oferecem educação média técnica e profissional (EMTP) em conjunto com currículos acadêmicos.

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